Patrimônio Cultural Fluminense

Friday, August 24, 2007



BAÍA DA GUANABARA:
DESCOBERTA, CONQUISTA E
POVOAMENTO

Paulo Clarindo
Fevereiro, 2005
Antes de entrarmos no nosso assunto principal que é a fundação da cidade do Rio de Janeiro, não podemos deixar de abordar a questão envolvendo a descoberta de uma belíssima e outrora límpida baía – que já antes do contato com os europeus era chamada pelos nativos de “guana-bará” (em tupi, “baía semelhante a um rio”) – e das lutas travadas pelo colonizador português, que desejava banir a presença dos franceses e subjugar os tupinambá, um dos povos que aqui já se encontravam.
A descoberta
No que se refere às diversas fontes que tratam da chegada do colonizador europeu aos trópicos e da descoberta da Baía da Guanabara, constata-se uma certa divergência de opiniões quanto a quem se atribui tal façanha. Há autores que atribuem a André Gonçalves – que teria sido o comandante da primeira expedição exploratória do litoral brasileiro de 1502 – a denominação de “Rio de Janeiro” à possível foz de um grande rio (e por ser o mês de janeiro), mas que na verdade tratava-se da imensa Baía da Guanabara. Alguns autores, que também apontam a primeira expedição exploratória enviada pela coroa portuguesa, consideram Gaspar de Lemos o comandante da esquadra que teria descoberto a baía. Outros pesquisadores acreditam que o comandante da armada – neste caso, a segunda expedição exploratória, de 1504 – seria Gaspar Coelho. Por outro lado, Vianna1 considera Gaspar de Lemos o comandante da primeira e Gonçalo Coelho (escrivão da Fazenda Real) o da segunda expedição. Duas coisas devem ser levadas em consideração: a descoberta da Baía da Guanabara muito provavelmente ocorreu em 1502, durante a primeira expedição, e o navegador florentino à serviço da Coroa portuguesa, Américo Vespucci, com certeza participou das duas empreitadas pelo litoral brasileiro.
A conquista
Antes de tratarmos da questão acerca da conquista da Baía da Guanabara pelos portugueses, devemos, primeiramente nos reportar ao ano de 1530, quando, em Portugal, é preparada uma poderosa esquadra constituída por duas naus, duas caravelas e um galeão, com uma tripulação composta de 400 homens, tudo sob o comando de Martim Afonso de Souza – o amigo de infância e homem de confiança de D. João III. Sua esquadra representava a “... maior e mais cara expedição que Portugal iria enviar para o Brasil desde o descobrimento ...”2 É óbvio que a Coroa lusitana planejava tomar posse definitiva colonizando as terras d’além mar. Até porque temia a constante e perigosa ameaça francesa em suas possessões no Atlântico-Sul. O custo da expedição de Martim Afonso era de cerca de trezentos mil cruzados, um valor muito alto para o Tesouro Real.
Aos 20 de novembro daquele ano, Martim Afonso recebe das mãos de Sua Majestade uma carta concedendo-lhe amplos poderes para cumprir sua missão, de suma importância para a soberania de Portugal perante sua futura colônia brasileira, uma vez que pelas redondezas do litoral do Brasil há muito já se faziam presentes corsários ingleses, holandeses, espanhóis e, sobretudo, franceses, que mantinham contatos freqüentes com os nativos, em busca do precioso pau-brasil e de outras iguarias, representando uma verdadeira dor-de-cabeça para a metrópole.
A missão de Martim Afonso e os poderes em nome do rei
Martim Afonso de Souza, nomeado capitão-mor da esquadra que o levaria, juntamente com Pero Lopes de Souza, seu irmão, ao Brasil, tinha como missão dar combate e aprisionar navios e entrelopos franceses e expulsá-los da “costa do pau-brasil”, além de apreender mercadorias contrabandeadas; explorar o litoral situado entre o Maranhão e o Rio da Prata; criar núcleos de povoamento mais eficazes que as feitorias anteriores; fundar fortalezas; explorar e conquistar a serra do Prata e do território do lendário “Rei Branco”; e reconhecimento do rio descoberto em 1500 por navegadores espanhóis no norte do Brasil, o atual Amazonas.
Que poderes estava investido Martim Afonso pelo rei D. João III? Tinha a autorização real para doar sesmarias; nomear tabeliães e oficiais de justiça; tomar posse das terras situadas nos limites da linha demarcatória de Tordesilhas; jurisdição sobre a vida ou a morte dos homens que o acompanhavam, a exceção de fidalgos, que somente poderiam ser julgados na metrópole; além da colocação de marcos de pedra – padrões – contendo esculpidas as armas portuguesas.
Martim Afonso, no comando de sua esquadra chega à Guanabara aos 30 de abril de 1531, permanecendo no local por quatro meses até o dia primeiro de agosto, quanto então ruma para mais ao sul e aporta no local onde no ano seguinte, 1532, funda a Vila de São Vicente, o santo padroeiro de Lisboa. São Vicente passa a representar a primeira ‘cidade’ fundada pelo colonizador português no Brasil.
Divisão do Brasil em capitanias hereditárias
Temendo a incômoda presença dos franceses no litoral brasileiro, sobretudo na Guanabara, o ‘Piedoso’ decide pela implantação do sistema de capitanias hereditárias, seguindo o modelo utilizado com sucesso no século anterior nas ilhas atlânticas, como na ilha da Madeira, por exemplo. A intenção do monarca era desenvolver tanto o povoamento quanto a economia de plantação, além, é claro, da construção de engenhos para produção do açúcar e da cachaça.
Aos 28 de setembro de 1532, D. João III redige uma carta endereçada ao seu amigo de infância, Martim Afonso. Nessa missiva, El-Rei fala da decisão de dividir a colônia brasileira em 15 capitanias com ciqüenta léguas de costa cada uma, e ainda comunica-lhe que reservou para ele, Martim, e seu irmão, Pero Lopes – o escrivão da expedição -, os melhores quinhões. Percebe-se o laço de amizade que unia os dois!
No final de maio de 1533, Martim Afonso decide retornar a Portugal. Aos 6 de outubro do ano seguinte recebe de sua Majestade a Carta de Doação e o Foral que lhe concediam a Capitania de São Vicente (1º quinhão : São Vicente; 2º quinhão : Rio de Janeiro).
Com relação aos instrumentos de doação das capitanias hereditárias – a Carta de Doação e o Foral -, achamos por bem explicar o seu significado. A carta de Doação representava “... o documento no qual se estabeleciam os limites geográficos da mercê real. O Foral relacionava os direitos e os deveres do donatário. Somente após a assinatura de ambos é que a capitania passava a pertencer legalmente ao donatário...”3
Criação do Governo-Geral
Tendo em vista as dificuldades e os insucessos com a maioria das capitanias e o infortúnio com os capitães-donatários, à exceção das capitanias de São Vicente, que se manteve relativamente ativa, com seus engenhos funcionando, e Pernambuco, de Duarte Coelho, a melhorzinha de todas, que funcionava a pleno vapor, apesar dos constantes problemas por ele enfrentados, D. João III tomou a difícil decisão de estabelecer na sua colônia brasileira o Governo-Geral, arcando o Tesouro real com todas as despesas de que era necessário para viabilizá-lo. Portanto, aos dezessete de dezembro de 1548, em Almerim, o monarca decreta a criação do Governo-Geral. Para que essa decisão pudesse surtir o efeito desejado, foi elaborado um minucioso regimento, contendo 17 itens, pelo Conde de Castanheira, D. Antônio de Ataíde, Vedor da Fazenda. O homem escolhido para ocupar o cargo de Governador-Geral do Brasil (o primeiro) foi o fidalgo Tomé de Souza, por “coincidência” um primo-irmão de Ataíde. O presente regimento determinava as formas de execução do Governo-Geral.
O novo sistema a ser implantado na colônia em nada substituiria as capitanias hereditárias, que permaneciam, teoricamente, nas mãos dos seus donatários, muito embora alguns as receberam sem sequer por aqui pisarem para administrá-las. Além do cargo de Governador-Geral, foram também criados os de Ouvidor-Geral, Provedor-Mor da Fazenda e Capitão-Mor da Costa4.
Governo de Tomé de Souza
Nomeado por sua Majestade em Carta Régia de 7 de janeiro de 1549, para os cargos de Capitão da Bahia e Governador-Geral do Brasil por três anos, partiu de Lisboa Tomé de Souza a 1º de fevereiro no comando de uma armada composta por três naus, duas caravelas e um bergantim, além de duas embarcações particulares, acompanhado do Ouvidor-Geral, Pero Borges; do Provedor-Mor da Fazenda, Antônio Cardoso de Barros; do Capitão-mor da Costa, Pero de Góis – o donatário expulso pelos goitacá da Capitania de São Tomé -; o mestre de obras, Luís Dias; o vigário, padre Manuel Lourenço; um grupo de missionários jesuítas chefiado pelo padre Manuel da Nóbrega; outros profissionais, cerca de 600 colonos e soldados, e 400 degredados. Como podemos perceber, uma senhora expedição enviada para cuidar da administração colonial em nome do rei do Portugal.
Após sua chegada ao Brasil, Tomé de Souza promove a edificação da sede do Governo-Geral num local adequado. Paralelamente, são iniciadas as obras de construção das casas da Câmara, da Audiência, do Governo, da Fazenda, da Alfândega, além de outras edificações: a cadeia, os armazéns, ferrarias, as casas dos colonos, da Capela de N.S. da Conceição e da Igreja de N.S. da Ajuda – o primeiro templo religioso da Companhia de Jesus nos trópicos. Visitou diversas capitanias e promoveu a fortificação de vilas e povoações que visitou; sugeriu à Coroa portuguesa a fundação de uma povoação na Baía da Guanabara, que se encontrava abandonada e entregue aos corsários franceses. O Governador-Geral ainda incentivou a lavoura da cana-de-açúcar, a pecuária e a promoção de expedições ao interior à procura de metais preciosos.
Por outro lado, teve em alguns donatários resistências ao seu governo, por não aceitarem a subordinação ao Governo-Geral, principalmente de Duarte Coelho de quem recebera forte oposição. Provavelmente desgastado pelos conflitos administrativos, “Tomé de Souza foi substituído, a seu pedido, cessando funções a 13 de julho de 1553, data em que transmitiu ao seu sucessor, D. Duarte da Costa (1553-57), o Governo-Geral do Brasil”5.
Governo de Duarte da Costa
Nomeado para o cargo de segundo Governador-Geral do Brasil, o fidalgo D. Duarte da Costa chega a Salvador em 1553, trazendo consigo alguns Jesuítas, entre estes, José de Anchieta, e uma leva de mulheres órfãs a espera de um casamento. Teve um governo conturbado com desentendimentos com o bispo D. Pero Fernandes Sardinha e a constante ameaça dos franceses. Em 1555, para complicar ainda mais o seu governo, os franceses, sob o comando de Villegaignon, fundam na Baía da Guanabara um núcleo de povoamento denominado ‘França Antártica’.
Baía de Guanabara 1555 (França Antártica)
Governo de Mem de Sá
Mem de Sá governou o Brasil por longos 14 anos, de 1558 a 1572. considerado “...violento matador de índios, conseguiu resolver uma série de dificuldades deixadas por Duarte da Costa ...”6, seu antecessor.
Mem de Sá – Óleo de Manuel Victor Fo.
Entre os anos de 1558 e 1560 nada pôde fazer o terceiro governador-geral para expulsar os franceses que se encontravam no Forte Coligny, mandado construir por Villegaignon em 1555 quando da fundação da França Antártica, tendo em vista o reduzido número de homens frente à ameaça que representava a aliança entre os tamoio e os gauleses.
No ano de 1557 ocorreu a chegada de novos colonos franceses à Guanabara, trazidos pelo sobrinho de Villegaignon, Bois le Comte, sendo a maioria católicos, mas contando também com a presença de alguns protestantes, entre eles, Jean de Lery, que publicaria depois os seus relatos na obra “viagem à terra do Brasil”. Em 1559 Villegaignon retorna à França, deixando o comando do forte Coligny ao seu sobrinho. Depois de obter reforços, Mem de Sá organiza a primeira expedição contra os franceses instalados na Guanabara em 1560. Ao chegar, sua esquadra promove um assalto ao forte Coligny. Os poucos franceses que lá se encontravam rumam para o continente e encontram abrigo na aldeia de Uruçumirim, do cacique Aimberê, Chefe da Confederação dos Tamoio, em substituição ao grande cacique Cunhambebe, morto vítima de uma epidemia de peste em 1557. Mem de Sá decreta a ordem de destruição total do forte. Cumprida sua missão, o governador-geral retorna a Salvador para resolver pendências administrativas.
O combate travado pelos portugueses contra os franceses e os aliados Tamoio gerou muitas incertezas quanto ao número de participantes. Para o padre Manuel da Nóbrega, que assistiu a tudo, havia 60 franceses e 800 nativos; Mem de Sá estima que no forte havia 116 franceses e cerca de mil índios; para André Trevet, cosmógrafo e cronista que esteve em contato com os Tupinambá e já não mais estava no Brasil imagina que os franceses não passavam de dez numa luta desigual contra dois mil lusos, equipados com canhões e armas de fogo.
Por persistirem os conflitos entre Tamoio e portugueses da capitania de São Vicente, o padre Manuel da Nóbrega comunica o cardeal infante D. Henrique sobre a iminente ameaça francesa e insubordinação nativa ao processo de colonização do Brasil, e recomenda a necessidade de se povoar a Guanabara:
“... Esses franceses permaneceram entre os índios e esperam socorro da França, sobretudo aqueles que pretendem estar aqui, a pedido do rei da França, para descobrir os metais preciosos que existiriam neste país.
Parece-me necessário povoar o Rio de Janeiro e fundar aqui uma outra cidade como a da Bahia, graças à qual tudo fica mais garantido, tanto a capitania de São Vicente quanto a do Espírito Santo, que atualmente estão bem enfraquecidas, os franceses seriam definitivamente expulsos e os índios, mais fáceis de sujeitar”7.
Dois anos antes da fundação da Cidade do Rio de Janeiro, mais exatamente aos 23 de setembro de 1563, o padre-chefe dos inacianos no Brasil, Manuel da Nóbrega – auxiliado pelo bom articulador, o também jesuíta José de Anchieta -, se utiliza de uma estratégia para evitar um ataque maciço dos tamoio contra São Vicente. Os dois religiosos foram até a aldeia de Iperoig com o objetivo de convencer os líderes do movimento de levante contra os portugueses a não prosseguirem com o que se propunham. Os confederados exigiam a libertação dos nativos aprisionados nas propriedades de Brás Cubas, dono de engenhos e governador da capitania de São Vicente, e a entrega dos traidores que haviam se passado para o lado dos portugueses, entre eles, Caiuby e Tibiriçã. Além disto, Aimberê e os demais conselheiros indígenas exigiam que fossem cessados os ataques às suas aldeias e que não mais fossem aprisionados seus irmãos, ou seja, de todas as nações reunidas no movimento. Selada a paz em Iperoig e atendidas em parte as exigências dos caciques, a exceção da entrega dos traidores, tudo voltara quase à normalidade, não fossem as novas investidas de João Ramalho e Brás Cubas com o intuito de aprisionar, escravizar e comercializar novos cativos. No período inicial de colonização, os engenhos se utilizaram com freqüência da mão-de-obra indígena, uma vez que, provavelmente, no final dos quinhentos é que chegaram ao Rio de Janeiro e a São Vicente as primeiras levas de escravos africanos para o trabalho na lavoura canavieira e nos engenhos.
Confederação dos Tamoio
Reunidas sob um mesmo ideal, diversos caciques, representando cada um a sua tribo, unem forças contra o invasor, o opressor, no caso, o colonizador português, um movimento que nasceu, provavelmente, entre os anos de 1554 e 1555, e perdurando até 1567. A este movimento, cuja liderança ficou a cargo do valente, temido e respeitado Cunhambebe, da aldeia Tupinambá de Angra dos Reis, foi dada a denominação de “confederação dos Tamoio”. O termo Tamoio ou ‘Tamuya’ significa em tupi “o mais velho do lugar”, “o mais antigo” ou, provavelmente, uma alusão a um antepassado comum a todas as tribos. Não existiu portanto, nenhuma tribo ou nação Tamoia ou Tamoio, conforme insistem em divulgar diversos historiadores. Segundo Quintiliano, “... Esse nome ainda não foi suficientemente explicado. O fato, porém, é que não existiu alguma tribo no Brasil com a denominação de Tamoio. Não se encontra, nos trabalhos escritos antes da confederação, qualquer referência ao nome Tamoio ...”8. O levante dos nativos teria mobilizado cerca de dez mil guerreiros entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Com relação ao descumprimento do acordo de paz selado na aldeia de Iperoig em setembro de 1563 por parte dos portugueses, que insistiam em apresar os nativos, só não houve uma destruição em massa dos engenhos e da vila de São Vicente, porque houve delação de Tibiriçá ao padre José de Anchieta, que por conseguinte comunicara tudo a João Ramalho. Desta forma, a Vila de São Vicente estava preparada para receber as investidas dos Tamoio.

A Fundação
Chegamos ao ano de 1565. A primeiro de março, instalados precariamente numa pequena faixa de terra situada entre o morro Cara de Cão e o Pão-de-Açúcar, o Capitão-Mor Estácio de Sá e seus comandados fundam a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, como forma de homenagem ao jovem rei português D. Sebastião (1554-1578), o mesmo que viria a desaparecer para sempre, aos 24 anos de idade, nas areias do norte da África, lutando naquela que ficaria marcada na memória do seu povo – a batalha de Alcácer-Quibir.
Fundada a cidade, iniciam-se os preparativos de defesa da pequena e incipiente vila e construção dos primitivos prédios públicos, moradias e da capela em louvor ao padroeiro – São Sebastião. Por cerca de dois anos, ali permaneceram Estácio de Sá, Manuel da Nóbrega e Anchieta, guarnecidos por seus soldados e devidamente acompanhados dos primeiros ocupantes de cargos públicos. Assim nasceu a que seria futuramente a mais bela e, talvez, a mais importante cidade brasileira, devido ao seu destaque como capital durante boa parte de sua existência [a Cidade do Rio de Janeiro foi sede do Vice-Reinado, do Reino Unido e Algarve, do Primeiro e Segundo Impérios, além de capital da República até 1960, quando da transferência desta para Brasília por JK].

O combate, o massacre e a posse definitiva da Guanabara
No ano de 1567, dois anos após a fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, ocorre aquela que ficaria marcada para sempre na história da cidade como a batalha de Uruçumirim. Com a chegada dos reforços à Guanabara – a esquadra do Governador Mem de Sá, sob o comando do Capitão-Mor Cristóvão Monteiro e contando com o apoio de Araribóia e seus temininó, que haviam sido acolhidos na capitania do Espírito Santo quando da sua expulsão da Ilha de Paranapuan (Ilha do Governador) pelos Tupinambá -, acontece a mais sangrenta das batalhas já travadas entre Tamoio e portugueses e seus aliados. Aos 20 de janeiro, dia do padroeiro da cidade, Mem de Sá, Estácio, Cristóvão Monteiro, Araribóia, soldados e temininó lançam a ofensiva contra os nativos da Confederação dos Tamoio e, a princípio, alguns poucos franceses que permaneceram naquela aldeia. Os combates se intensificam, Estácio de Sá é ferido no rosto por uma flecha que o deixará enfermo por um mês, vindo a falecer no dia 20 de fevereiro, e pouco a pouco as forças portuguesas vão acuando os Tamoio. Estes são impiedosamente massacrados, a aldeia de Uruçumirim e as demais ao longo do recôncavo são destruídas pelas mãos do colonizador. Sobre esse tenebroso dia para os nativos escreveu Quintiliano:
“(...) Dois dias realmente pelejaram. Em Uruçumirim, principalmente. Dia 20, essa aldeia, capital da Confederação dos Tamoio, era reduzida a cinza (...).
(...) Morreu Pindobuçu e seu filho Parabuçu. Morreram todos. Morreu Ernesto. E Potira morreu lutando a seu lado. Morreram todos. Morreu Iguassu e morreu Aimberê, o mais valente chefe nativo, que os pósteros haverão de lembrar para sempre (...).
(...) Naquele 20 de janeiro, a intolerância religiosa e a ambição colonizadora e escravista de Portugal promoveram um dos mais sinistros e vergonhosos massacres de toda a história brasileira. Centenas e centenas de irmãos Tamoio tingiram de sangue as águas do rio carioca, na taba de Uruçumirim. Depois, novo massacre seria feito na ilha de Paranapuã ...”9
Ao longo do recôncavo da Guanabara existiam, segundo o cronista e calvinista francês Jean de Léry, que veio para o Rio de Janeiro durante a França Antártica, 32 aldeias tupi entre os anos de 1550 e 1560. O cosmógrafo e também cronista francês André Thevet relata cerca de 36 tabas só na Ilha de Paranapuã ou Margayá (atual Ilha do Governador).
Mapa do Rio de Janeiro de 1565
O padre José de Anchieta que sempre esteve ao lado dos conquistadores da Guanabara e que fora um árduo defensor do extermínio dos nativos confederados, assim deixou registrado na sua obra “De Gestis a Mem de Sá”, quando relata os combates entre tamoio e portugueses e faz uma alusão à vitória de Mem de Sá:
“... Quem poderá contar os gestos heróicos do chefe à frente dos soldados, na imensa mata! Cento e sessenta as aldeias incendiadas, mil casas arruinadas pela chama devoradora, assolados os campos, com suas riquezas passadas ao fio da espada!...”
Da Vila Velha ao Morro do Castelo
Cessado os conflitos, vencida a guerra, aniquilados o povo tupi e aliados, afastada a ameaça francesa e finalmente conquistada a Guanabara, o Governador-Geral providencia a transferência da sede da recém-fundada cidade da Vila Velha para o morro do Descanso ou de São Januário – um pouco mais tarde passaria a se chamar do castelo por ser fortificado e coberto de casas de pedra e taipa. “... Em 1568, os jesuítas, que participaram ativamente do nascimento da cidade, erguem ali um colégio, cuja direção é confiada a Manuel da Nóbrega, que morrerá dois anos mais tarde ...”10. Neste mesmo ano Mem de Sá providencia a nomeação do 2º capitão-mor e governador da cidade do Rio de Janeiro, novamente um outro sobrinho seu, Salvador Correia de Sá e retorna a Sede do Governo Geral. “... Tomadas essas e outras providências, como a nomeação da melhor gente para os diversos cargos do Governo e da Justiça, e pedidas à metrópole a remessa de colonos e gado com que se povoasse a nova cidade, la por maio de 1568, Mem de Sá tornou à Bahia...”11
No morro do Castelo, onde foram erguidos o colégio dos jesuítas e a igreja de São Sebastião, local onde fora transferido o túmulo de Estácio de Sá em 1583, as condições são precárias para os seus primeiros moradores, principalmente no que se refere à disponibilidade de água. Por isto, o Castelo é aos poucos abandonado. As autoridades municipais passam a ocupar a área existente entre os morros do Castelo, de Santo Antônio, de São Bento e da Conceição: “... os quatro morros à margem de uma baía – estratégicos à defesa do sítio conquistado – para que, do alto, em fortalezas e igrejas, olhos vigilantes guardassem seus domínios sobre os espaços e as almas ...”12
Sobre o morro do Castelo como opção para assentar o novo sítio relatara Mem de Sá:
“... Escolhi um sítio que parecia mais conveniente, para edificar nele a Cidade de São Sebastião o qual sítio era de um grande mato espesso cheio de muitas árvores grossas em que se levou assaz de trabalho em as cortar e a limpar o dito sítio e edificar uma cidade de grande, cercada de muro por cima, com muitos baluartes e fortes cheios de artilharia. E fiz a igreja dos padres de Jesus, onde agora residem, telhada e bem concertada e a sé de três naves, também telhada e bem concertada, fiz a casa de Câmara sobradada, telhada e grande, a cadeia, as casas dos armazéns e para a fazenda de sua alteza sobradas e telhadas e com varandas, dei ordem e favor com que fizessem outras muitas casas, telhadas e sobradas ...”13
Até a metade do século XVII, o Rio de Janeiro se restringirá a menos de dois quilômetros, com apenas três ou quatro ruas. Aos poucos irá expandir-se no sentido da zona portuária. “... Entre os morros do Castelo e de São Bento estende-se a praia onde são desembarcadas as mercadorias provenientes de Portugal mas também os víveres que vêm das fazendas distantes da cidade. Até a segunda metade do século XIX, as águas da Baía da Guanabara servem de meio de comunicação privilegiado entre seus ribeirinhos. Logicamente, é ao longo dessa praia que se concentra a atividade comercial do Rio ...”14 No final deste século, o Rio de Janeiro já contava com 120 engenhos.

No ano de 1586 chegam à cidade os beneditinos; em 1608, os franciscanos e, após, os carmelitas. Em 1660 ocorre um levante contra os desmandos e privilégios do atual governador, o general Salvador Correia de Sá e Benevides e sua família, liderado por Jerônimo Barbalho Bezerra. No ano seguinte, os rebeldes são presos e entregues ao governo-geral, na Bahia, ao passo que o líder do movimento é sumariamente condenado à morte. Após este episódio, no entanto, a coroa portuguesa não reconduz Salvador Correia de Sá e Benevides ao Governo do Rio de Janeiro, preferindo nomear como sucessor Pedro de Melo. Desta forma, chega ao fim o predomínio da família Correia de Sá no Governo do Rio de Janeiro.
No final do último quartel do século XVII o Rio de Janeiro assistirá às primeiras descobertas de ouro e pedras preciosas pelo interior da região que ficará marcada a partir do próximo século como as Minas Gerais, e na Bahia. A corrida desenfreada ao ouro deixará marcas na Cidade do Rio de Janeiro, com o êxodo nos engenhos e o aumento dos preços da mão-de-obra escrava. Agora, a prioridade na aquisição do escravo africano passa a ser a região mineradora.
A única estrada disponível para transportar a nova riqueza da metrópole é a antiga trilha dos Guaianá, que passa a ser chamada de caminho do ouro ou, para os mineiros de hoje, Estrada Real, “... que, partindo de Paraty, rumava na direção de Taubaté, de Pindamonhangaba e de Guaratinguetá galgando depois a Serra da Mantiqueira até atingir o vale do rio verde ...”16
A antiga trilha dos índios guaianá ganharia fama como “caminho do ouro” por se tratar de uma via terrestre, cujo ponto de partida para as gerais e de chegada do ouro com destino ao Rio de Janeiro era Paraty, hoje uma cidade turística, cujo patrimônio arquitetônico é tombado pelo Iphan. Essa antiga trilha tornou-se estrada oficial em 1660 por ordem de Salvador Correia de Sá e Benevides.
Em 1704 surge uma nova rota para o escoamento do ouro, pedras preciosas e circulação de mercadorias e gêneros alimentícios – o caminho novo -, em substituição ao anterior, e também chamado de caminho de Garcia Pais ou caminho do Couto ou caminho do Pilar. Fora aberto pelo bandeirante Garcia Rodrigues Pais, com autorização régia, entre os anos de 1699 e 1704. Sua finalidade era facilitar com rapidez a comunicação entre o Rio de Janeiro e as gerais, encurtando “para pouco mais de 15 dias” o trajeto gasto de cerca de 90 dias no caminho anterior (velho). O novo caminho do ouro “... saía da Freguesia de N.S. do Pilar, remontava o curso do rio Pilar e passava pelo Couto, cortava o rio Santana (próximo às suas cabeceiras) e transpunha a serra de Manga Larga, para chegar à Freguesia do Alferes, depois Pau-Grande, Cavuru, Varge e, finalmente, chegar à Freguesia de São Pedro e São Paulo e à Guarda do Paraíba ...”17 Ainda sobre este caminho nos informa o professor Guilherme Peres que:
“... A abertura do caminho novo feito por Garcia Rodrigues Pais entre 1699 e 1704, rompendo a barreira da Serra do Mar e chegando à Baixada Fluminense através do Porto do Pilar, era o início de uma rede de caminhos que foram surgindo devido as melhores condições econômicas e geográficas ...”18

Chega-se, portanto, ao século XVIII, ao apogeu do ciclo do ouro, momento de grande movimentação na região das gerais, fazendo refletir-se na cidade do Rio de Janeiro, que recebe a mercadoria preciosa com destino à metrópole, e na Baixada Fluminense, onde começam a formigar pousos de tropeiros e pequenos núcleos populacionais, além de engenhos e fazendas. Assim, procurando as melhores condições de trânsito para o metal precioso e as mercadorias com vistas à região mineradora, surge um novo caminho – o caminho do Inhomirim.
Também conhecido por Caminho ou Variante do Proença – por ter sido aberto pelo sargento-mor Bernardo Soares de Proença em 1724 – o Caminho Novo do Inhomirim, pela facilidade no conduzir das tropas e pela sua praticidade, uma vez que tinha o propósito de diminuir a distância “em quatro dias de viagem” e ainda oferecia menor perigo para os comerciantes, foi durante mais de um século a passagem do ouro e das pedras preciosas pela Baixada Fluminense19. Iniciava o caminho do Inhomirim no “... Porto da Estrela, às margens do rio Inhomirim, atravessava o ‘Córrego Sêco’, hoje Petrópolis, margeando o rio Piabanha, em busca do rio Paraíba ...”20
Além do Caminho Novo de Garcia Pais ou Caminho do Pilar (1704) e do Caminho do Proença ou Caminho do Inhomirim (1724), outras vias de comunicação surgiram durante o século XVIII (setecentismo) e no XIX. O Caminho de São Paulo (1733), o Caminho das Minas de Cantagalo (1787), o Caminho de Teresópolis (1840), a Estrada do Comércio (XIX) e a Estrada da Polícia (1817) são algumas delas. Não podemos deixar de mencionar também, que durante o período da mineração nas Minas Gerais os chamados descaminhos do ouro foram intensamente utilizados pelos contrabandistas, a fim de burlar a fiscalização da Coroa portuguesa.
O que pudemos depreender com relação a essas vias de comunicação é que “... durante quase cem anos, a Baixada Fluminense viu passar por esses caminhos toda a riqueza mineral que se extraía das Minas Gerais. Esgotados os veios auríferos no século XVIII, essas veredas foram preteridas por outras que encurtavam distâncias, facilitavam o transbordo ou levavam as mercadorias diretamente para a Corte, no momento em que se iniciava o ciclo de uma nova opulência: o café ...”21, que chegará ao auge em meados do século XIX, levando à prosperidade aquela que fora a primitiva Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro lá no século XVI.
Bibliografia
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1VIANNA, Hélio. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1994, pp. 51-52.
2BUENO, Eduardo. Náufragos, traficantes e degredados: as primeiras expedições ao Brasil (1500-1531). Rio de Janeiro: Objetiva, 1998, p. 32.
3BUENO, Eduardo. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998, p. 87.
4VIANNA, Hélio. Op. Cit., p. 78.
5COUTO, Jorge. A Construção do Brasil: ameríndios, portugueses e africanos, do início do povoamento a finais de quinhentos. Lisboa: Edições Cosmos, 1998, p. 243.
6COTRIM, Gilberto. História e Consciência do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 47.
7ENDERS, Armelle. História do Rio de Janeiro. Tradução de Joana Angélica d' Ávila Melo. Rio de Janeiro: Gryphus, 2002, p. 31.
8QUINTILIANO, Aylton. A Guerra dos Tamoios. Rio de Janeiro: Relume-Dumará/Prefeitura da Cidade de Rio de Janeiro, 2003, p. 64.
9QUINTILIANO, Aylton. Op. Cit., pp. 239-240.
10ENDERS, Armelle. Op. Cit., p. 35.
11CRULS, Gastão. Aparência do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1949, p. 60.
12SIGAUD, Márcia Frota. PINHO, Cláudia Maria Madureira de. Morro da Conceição: da memória o futuro. Rio de Janeiro: Sextante Artes/Instituto Pereira Passos, 2000, p. 10.
13NONATO e SANTOS, 2000, p. 2.
14ENDERS, Armelle. Op. Cit., pp. 38-39.
15Em 1783 a Lagoa do Boqueirão fora aterrada e no local criado o Passeio Público [Magalhães Corrêa, 1935]
16MATHIAS, Herculano Gomes. WULFES, Alexandre. História Ilustrada do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, p. 47.
17PERES, Guilherme. Caminhos Pioneiros através da Baixada Fluminense. Apostila do Curso de História da Baixada Fluminense. São João de Meriti: IPHAB, 2000, p. 17.
18PERES, Guilherme. Tropeiros e Viajantes na Baixada Fluminense: Ensaio. São João de Meriti: Gráfica Shaovan Ltda., 2000, p. 44.
19PERES, Guilherme. Os Caminhos do Ouro: Ensaio. Duque de Caxias: Consórcio de Administração de Edições, 1993, p. 30.
20PERES, Guilherme. Op. Cit., p. 44.
21PERES, Guilherme. Trilhas e Caminhos da Baixada Fluminense. Apostila do Curso de História da Baixada Fluminense. São João de Meriti: IPHAB, 2002, p. 1.

Friday, May 19, 2006

Cemitério Pretos-Novos

Ao Jornal “FOLHA DO CENTRO”
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folhadocentro@bol.com.br
Rua República do Líbano, 61, sl/207
Centro – Rio de Janeiro, RJ



Pretos - Novos

Gostaria de aproveitar a oportunidade para enaltecer o trabalho de divulgação cultural desenvolvido pela ong Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, sito à rua Pedro Ernesto, 36, Gamboa, onde outrora existira um cemitério para escravos recém-chegados da África que não resistiam às péssimas condições de salubridade, por isso chamado de ‘Pretos Novos’.

Anteriormente à criação desse cemitério existiram dois outros cemitérios em épocas distintas, primeiramente num local junto ao morro do Castelo, atrás do hospital da Santa Casa de Misericórdia, no decorrer do século XVII. Este cemitério era destinado a escravos africanos e seus descendentes, indigentes, escravos indígenas, além dos que morriam no referido hospital.

Aproximadamente no primeiro quartel do século seguinte – o XVIII -, os escravos africanos recém-chegados à Cidade do Rio de Janeiro (os ‘pretos novos’) que morriam nos depósitos à espera de compradores, passaram a ser sepultados num novo cemitério, estabelecido no Largo de Santa Rita. Após a transferência do mercado de escravos da rua Direita (atual Primeiro de Março) para o Valongo (por volta de 1769), o cemitério dos ‘pretos-novos’ é também transferido para essa região, que se tornaria uma importante zona portuária para a cidade. Desta forma, o vice-rei, Marquês do Lavradio, resolvia o problema e as inquietações causados pela proximidade de cadáveres de escravos na área central da Cidade do Rio de Janeiro.

Segundo a professora Claudia Rodrigues, “...’Pretos-novos’ era a referência aos escravos recém-chegados da África. Uma vez que os navios negreiros provenientes da África chegavam ao porto da cidade, os negros, após passarem pela Alfândega, eram conduzidos para os depósitos que se situavam nas partes inferiores de prédios da rua Direita e do início das ruas transversais e lá ficavam à disposição dos compradores...”[1]



Por fim, as escavações à que se refere o casal Merced e Petrúcio, são na verdade as obras de reforma que deram início na residência, quando então foram encontradas diversa ossadas humanas. Houve logo a seguir uma intervenção do Departamento Geral de Patrimônio Cultural (DGPC), órgão da prefeitura, e contatado o Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB), que enviou uma equipe de arqueólogos para executar um trabalho de resgate do material encontrado no subsolo da casa. Os estudos apontaram para a existência de um cemitério setecentista de escravos africanos que ficara conhecido como ‘Pretos-Novos’, conforme já mencionei.

Segundo o Professor Paulo Seda, Diretor de Pesquisa e Vice-Presidente do IAB, há um projeto objetivando uma escavação no local, mas que nunca foi liberado pela prefeitura.


Cordialmente,

Paulo Clarindo
Nova Iguaçu, RJ
arqueologia@oi.com.br
www.arqueologiaepatrimonio.blogspot.com



[1] RODRIGUES, Claudia. Lugares dos mortos na cidade dos vivos. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1997, p. 109.

Thursday, May 18, 2006

BAIXADA URGENTE - DENÚNCIA

ABAIXO-ASSINADO DENUNCIA

AMEAÇAS À IGREJA DO PILAR



Professores e pesquisadores da História da Baixada entregam nesta quinta-feira (18/05), às 10:00 horas, um abaixo-assinado à direção do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – no centro do Rio, onde denunciam os riscos que representam para a Igreja de Nossa Senhora do Pilar, em Duque de Caxias, as obras que o DER vem realizando para duplicação da Avenida Presidente Kennedy, antiga Estrada Rio-Petrópolis. O movimento foi desencadeado esta semana pela APPH – Associação de Professores e Pesquisadores da História da Baixada – e o LAB – Laboratório de Arqueologia Brasileira – instituições formadas a partir de um grupo de professores do Curso de História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da FEUDUC – Fundação Universidade de Duque de Caxias, a primeira Faculdade do gênero na Baixada, que funciona em S. Bento, a poucos quilômetros do bairro do Pilar.
Na terça-feira, no início da noite, alunos e professores da FEUDUC interromperam o trânsito na Avenida Presidente Kennedy, em frente à Faculdade de Letras, para protestar contra o descaso das autoridades das Secretarias de Cultura do Estado e do Município, diante do risco que representa para a Igreja do Pilar a duplicação da pista da Avenida Presidente Kennedy. Com as obras, os veículos de carga passarão junto à Igreja, cuja construção é de 1774. A Avenida Presidente Kennedy é hoje o principal eixo rodoviário que liga os Distritos de Duque de Caxias e acesso à Rodovia Presidente Dutra, através de Belford Roxo e muito utilizado pelos caminhões-tanques que levam combustíveis da Reduc para as cidades situadas ao longo da Rodovia Presidente Dutra entre a Baixada Fluminense e Volta Redonda. Para este domingo, está previsto um abraço simbólico à Igreja do Pilar, a partir das 9:00 horas.
A Igreja do Pilar foi construída ao lado do porto do Pilar, que recebia metais e pedras preciosas de Vila Rica, até ali transportados em lombo de burro, para serem embarcados em direção ao porto do Rio de Janeiro, atual Praça XV, onde era feito o transbordo para navios que seguiam em direção à Europa. Além dos fazendeiros da região, a Igreja do Pilar também era visitada por Tiradentes que, como alferes, era o chefe da guarda real que fiscalizava o transporte pela Estrada Nova das Gerais, que ligava o porto do Pilar à Vila Rica, atual Ouro Preto.

Quarta-feira, Maio 17, 2006
Alberto Marques, Duque de Caxias, RJ